Lavagem de São Roque: com o apoio popular tradição será mantida e cortejo sairá dia 15 pelas ruas de Riachão
“Arriba a saia peixão todo mundo arribou e você não”
O trecho lembra uma das cantigas populares que há décadas anima as mulheres da Rua do Fogo em cortejo pelas ruas de Riachão do Jacuípe. Este ano, de acordo com dona Maria do Rosário (dona Branca) a lavagem acontecerá, mais uma vez, com a ajuda do povo jacuipense:
“Contávamos com o apoio da Prefeitura para
realizar esta festa, mas de umas gestões pra cá deixamos de receber este
apoio tão importante para manter nossa lavagem que é centenária,” explica
a organizadora dona Branca, substituindo outros inesquecíveis organizadores
como o pioneiro, Abdias Carneiro.
Dona Branca (organizadora da Lavagem-2019)
A
Lavagem sairá no dia 15 de agosto, a partir das 15 horas, da casa
de dona Idalina, onde se concentra todo ano, na rua Paulo Lopes- Alto
do Cruzeiro. “Enquanto isso, a Banda do Biriba se afina na Rua Aurélio
Mascarenhas e segue para nos encontrar na casa de Idalina. Como todo ano,
vamos seguir parando em pontos tradicionais: casa do finado Abdias,
entre outros, até chegarmos, pontualmente, às 18 horas na
Igreja Matriz para fazer nossas orações a São Roque. Em seguida, retornaremos
para a casa de Dona Idalina, informa dona Branca.
A
tradição e a modernidade
A
lavagem em louvor a São Roque é uma manifestação profana criada pelas
prostitutas da Rua do Fogo há mais de 100 anos e que acontece
em paralelo às comemorações oficiais ao dia de São Roque, realizada pela igreja
católica de Riachão do Jacuípe.
Para
dona Idalina da Hora, uma das tradicionais porta bandeira da Lavagem, o evento esteve quase morrendo e este ano ela achava que não
aconteceria, “no ano passado, doente, fui só para o
encerramento na escadaria da igreja, acho a hora mais importante, porque, é o canto em louvor a meu
Senhor São Roque”, lembrou dona Idalina.
Idalina
ainda diz que irá passar a função de porta bandeira para Jucira ou Maria
Candeal, ambas tradicionais seguidoras da festa, devotas ao Santo
e moradoras do bairro. Uma delas herdará o posto que antes de ser de Idalina
foi de Hermínia e Bernadete (já falecidas).
De
acordo com a escritora Nete Benevides, autora do livro: “A Louvação das prostitutas de Riachão do Jacuípe ao
glorioso São Roque”, a lavagem foi criada e era comemorada como um
dia de autoafirmação destas mulheres, bem como, de todos os
moradores da rua de baixo, que encontravam neste dia, a porta de acesso
livre ao centro da cidade, já que eram durante o ano proibidas pelas
autoridades locais.
Lavagem descendo o beco de seu Abdias
O
que não se deve esquecer jamais é a origem da Lavagem, movida pelos
anseios das mulheres ditas “solteiras da Rua do Fogo”. Estas, inclusive,
saíam bem vestidas com muito glamour e quando apontavam na rua de cima,
nada as impediam de serem admiradas, ou até mesmo, invejadas pelas
mulheres do centro da cidade”, lembra a historiadora jacuipense,
Mariana Oliveira.
Diferente
de outrora, de umas décadas pra cá, a festa passou a ser de
todos. Antes ela saía da Rua do Fogo com apenas suas baianas e demais populares
do bairro. Hoje, pessoas de toda a cidade se deslocam até o bairro para
se concentrarem com elas e não mais esperarem elas passarem, mas saírem
com elas.
Visibilidade na Imprensa e tema de trabalhos acadêmicos
A
festa tem ganhado visibilidade a partir da imprensa e de pesquisas sobre o
tema. Já são mais de 10 trabalhos
acadêmicos sobre a Lavagem, além disso, livros e documentários
como: “Rua do Fogo -Memórias do Baixo
Meretrício” (produzido pelas jornalistas Laura Ferreira e Kátia Britto) exibido em tela grande na Cinelândia, no Encontro Internacional de Cinema Negro
patrocinado pelo Petrobrás, no Rio de Janeiro em 2010. A maioria destes
trabalhos estão na internet e têm servido de referências para outros trabalhos
acadêmicos.
Laura Ferreira e dona Idalina
A
historiadora pela UNEB – Universidade do Estado da Bahia, Mariana
Oliveira (que usou o documentário como referência) fala da Lavagem em sua
monografia com o seguinte tema: “A Lavagem
de São Roque em Riachão do Jacuípe, um espaço de integração entre a população
pobre e as prostitutas nas décadas de 1930 a 1950”. Isso mostra o quanto a
Lavagem de São Roque tem servido para importantes reflexões sociais, valorização,
manutenção e ressignificação da festa.
A
organização da Lavagem-2019, há apenas 3 dias de sua realização, ainda
conta com o apoio de todos os jacuipenses. Para ajudar é só entrar em contato
com as seguintes pessoas:
Dona Branca:71- 9603 6108
Biriba: 75- 9 9225 7560
Por Laura Ferreira- Coordenadora no Imprensa Cheque
Fotos: Eliete Cordeiro
Por Laura Ferreira- Coordenadora no Imprensa Cheque
Fotos: Eliete Cordeiro
Lavagem de São Roque: com o apoio popular tradição será mantida e cortejo sairá dia 15 pelas ruas de Riachão
Reviewed by Imprensa Cheque
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agosto 12, 2019
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