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Preconceito, a burka da depressão e o acolhimento do CAPS de Riachão do Jacuípe



A cada quarenta segundos, alguém, em algum lugar do mundo, tira sua própria vida. Esse dado é da Organização Mundial da Saúde- OMS. Em números 5,8% da população do Brasil tá acometida por depressão e, 9,3%, por ansiedade (OMS, 2018). Em divulgação mais recente a ONU já fala de uma taxa global de suicídio de 10% em todo o mundo, e que só na América aumentou 6%.


Neste contexto mundial está o Brasil e, claro, Riachão do Jacuípe- no interior baiano- que também como em qualquer outro canto do mundo conta com um outro  mal: o preconceito. Um tabu que causa outros transtornos para que enfrenta o adoecimento psiquíco.

 Antes da morte, a luta de um suicida não é fácil.  Ele passa a ter uma sobrevida e, muitas vezes, tem vários pequenos transtornos antes de evoluir para o poço mais fundo, a depressão.



Uma história e vários preconceitos


    Foto - ilustração (internet)

Ana Maria é o nome fictício de uma das usuárias do CAPS- Centro de Reabilitação Psicossocial de Riachão do Jacuípe. Ela é professora e pediu para não ser fotografada nem ter seu verdadeiro nome revelado, pois teme ser demitida do trabalho.  De acordo com Maria para a direção e todo o corpo docente da escola ela é totalmente saudável e uma excelente profissional.

Isso porque, na escola em que trabalha, Ana conta que precisa disfarçar suas dores, pois apesar de não ser diagnosticada com depressão ela tem TAG- Transtorno da Ansiedade Generalizada que se não for tratada atrapalha a vida pessoal e profissional. 

“Apesar de sintomas como esquecimento, cansaço ou estafa mental atualmente serem comuns e, não associados ainda pela sociedade ao adoecimento psíquico, são sintomas que quando naturalizados dificulta o diagnóstico e a busca por tratamentos. Afinal de contas, há pessoas como eu que só constataram a ansiedade muitos anos depois”, diz a professora.

Para ela isso torna difícil a aceitação social, de si mesma, e da própria família, que muitas vezes, taxa seu problema: ora como falta de deus, ora como frescura. Logo,  acarreta em uma maior dificuldade para um tratamento exitoso da TAG, que pode ser o caminho para a depressão,  caso não seja tratada.

Os sintomas da TAG são: coração acelerado, dificuldade de concentração, fortes dores de cabeça (enxaqueca) inquietação, fadiga, irritabilidade, tensão muscular e perturbação do sono. Embora a doença cause muito sofrimento e interfira na qualidade de vida e no desempenho familiar, social e profissional dos pacientes, Ana conta que antes que os sintomas afetassem o seu desempenho no trabalho ela procurou o CAPS de Riachão e está se tratando com medicações e terapias.

“Antes do tratamento a sensação era a de que meu fim estava próximo e que se tratava mesmo de um caminho sem volta.  Eu achava que entraria em um estado depressivo e logo poderia não suportar e tirar a minha própria vida.  Quando ia ao médico só achava que ele ia descobrir um câncer, fiquei completamente paranoica”,  narra a professora, atualmente seguindo à risca as recomendações do CAPS: medicamentos, aeróbica, caminhadas e bons livros,” acrescenta.



O acolhimento no CAPS Margarida Vieira dos Santos -Riachão do Jacuípe



Equipe do CAPS -Margarida Vieira (R. do Jacuípe)


Situado na Rua Dr Izauro de Souza, entre os bairros Alto do Cruzeiro e  Barra do Vento, o CAPS funciona em uma casa alugada pela prefeitura municipal. Com um espaço bastante reduzido para as atividades, o setor conta atualmente com uma coordenação bem avaliada pelo COREN (Conselho Regional de Enfermagem) e pela UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana, através de pesquisa sobre saúde mental realizada pelo coordenador do próprio CAPS-Riachão, Marcos Paulo Lopes.


O acolhimento no CAPS de acordo com Marcos  é considerado como uma estratégia para receber todas as pessoas que procuram o serviço. “A partir do acolhimento a gente entende que não correremos os riscos de aplicar uma triagem, que na clínica de saúde mental, em meu entendimento, seria um risco potencial para equívocos. A partir do acolhimento a gente direciona a demanda apresentada para o profissional competente”, explica Lopes.

O Coordenador  aponta também como um indício de forte preconceito o fato de não poder contar com casas  mais espaçosas para realizar melhor as atividades. “Hoje posso falar seguramente que um dos maiores problemas que temos é o espaço físico. O ideal seria um espaço mais centralizado com melhores adequações, mas a dificuldade em conseguir casa para alugar e adequar para o CAPS é muito grande, pois ainda é um serviço de saúde cercado de preconceitos e os proprietários de casas maiores não querem alugar, infelizmente”, destaca o coordenador.




Coordenador do CAPS-Riachão, Marcos Lopes

Verificamos ainda pessoas que por receio também não quiseram se identificar e não procuram a unidade para o devido tratamento por preconceito. Uma delas,  disse que preferiu se tratar com um médico clínico sem a especialidade em psiquiatria por não se sentir bem no CAPS, afirmou que teme ser considerada uma “louca” , revela a anônima.

O CAPS de Riachão conta com a seguinte equipe (equipe mínima): Assistente Social, Enfermeiro Especialista em Saúde Mental, 1 Clínico com experiência em psiquiatria, Psiquiatra, Psicóloga (2) e 1 Técnica em enfermagem.

Ainda de acordo com a coordenação do CAPS a situação dos quadros de ansiedade e depressão em Riachão é proporcional ao que está acontecendo no país. Em números 5,8% da população do Brasil tá acometida por depressão e, 9,3%, por ansiedade (OMS, 2018).

O acolhimento realizado no CAPS citado por seu coordenador deixa claro que o Centro trata de saúde mental em vários graus e que é um sinal de preconceito achar que só pessoas consideradas “loucas” estejam se tratando no espaço. Pelo contrário, um leve trauma advindo de uma perda pessoal, um pequeno transtorno como o TOQUE ou mesmo a TAG e demais doenças psíquicas não diagnosticadas como “loucura” também são tratadas e ajustadas, inclusive com terapias pelos psicólogos  da unidade.


Ainda é pouco difundido para a sociedade os aspectos que caracterizam o adoecimento psíquico. Percebe-se que as pessoas também pouco lêm sobre o assunto que há muito tempo é considerado de interesse público e, mais do que nunca, um caso de Saúde Pública, embora o novo governo tenha ameaçado fechar os centros e retomar os manicômios no início do ano.


Para saber mais sobre o trabalho de Marcos Lopes no CAPS de Richão acessem: https://youtu.be/b7hu8cxVddw  



Imprensa Cheque
Fotos (CAPS e ilustração)

Preconceito, a burka da depressão e o acolhimento do CAPS de Riachão do Jacuípe Preconceito, a burka da depressão e o acolhimento do CAPS de Riachão do Jacuípe Reviewed by Imprensa Cheque on setembro 27, 2019 Rating: 5

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